A história de Itaquara não se remonta a eras longínquas, pois o seu
início data de pouco mais de um século. Os primórdios da vida social,
com o primeiro agrupamento de casas rústicas, presumivelmente, são de
após a abertura da grande estrada ?pedestre?, ou ?real?, nome que o
vulgo chamava às nossas primitivas vias de comunicações.
Essa grande estrada que, partindo do litoral, demandava a cidade
de Vitória da Conquista e se comunicava com o Norte de Minas foi aberta
por destemidos e esforçados sertanistas; capitaneados pelo ousado
bandeirante Manoel de Sousa Santos e seus filhos: capitão Manuel Esteves
de Sousa Santos , apelidado ?capitãozinho?, e alferes João de Sousa
Santos. Essa estrada, de traçado admirável, parecia obra de técnicos e
era de extrema necessidade, tanto assim que, chegando a sua existência
ao conhecimento do Governo Colonial, já estabelecido em nosso país, com a
fuga da Corte lusa para as nossas plagas, açoitada pelas hostes
napoleônicas, isso precisamente na primeira década do século passado,
baixou D. João VI, então reinante, um decreto que concedeu àqueles
desbravadores a sesmaria de uma vasta região, em que se achavam as
terras do Poço do Vacão, Vazante, Santana e Casca, as quais formam hoje
três municípios. Essa doação foi feita como um prêmio para aqueles
operosos desbravadores dos nossos sertões adustos e construtores de tão
importante e utilíssima artéria de comunicação, que facilitaria o
intercâmbio comercial entre diferentes zonas do nosso estado. Os
beneficiários estabeleceram-se desde logo, talvez antes mesmo, um pouco
abaixo da atual cidade de Itaquara, no lugar denominado Santana, com
fazendas de cultura e criatório de gado solto. Ainda há pouco se lia em
um velho eixo de bolandeira, de fabrico de farinha de mandioca, uma
semi-apagada inscrição de 1811. Ali viveu até o último quartel de sua
existência o velho chefe da família, cuja casa ainda existe. Sucedeu-lhe
o filho Manuel Esteves, o ?capitãozinho?, que a vendeu, por sua vez, em
1858, ao comendador José Rodrigues da Costa, que restabeleceu o
referido criatório de gado, entregando-o a vaqueiros mediante regime de
parceria (sortes). O comendador era senhor de latifúndios, nas zonas
canavieiras de Nazaré e de São Miguel, onde fora o precursor da cultura
neste último município. A dita estrada, uma vez aberta, entrou logo em
fase de intensa atividade; eram tropas carregadas que subiam para o Alto
Sertão, levando toda sorte de mercadoria, como também de lá desciam os
produtos da terra, como algodão, farinha, couros, cereais e gado de
várias espécies, vindos até do norte de Minas em procura do litoral
baiano. Então, em todo o percurso, ao longo da referida estrada,
existiam os pontos de pouso (rancharias), para o pernoite e descanso dos
viandantes e alimárias, sendo que muitos deles se desenvolveram e se
transformaram em vilas e cidades: Itaquara foi um desses pontos.
O começo da formação da cidade deve-se ao velho Brandão de Moura,
que, vindo de São Felipe, se estabelecera no lugar chamado ?Barriguda?,
com boa fazenda. Depois veio, de Santo Antônio de Jesus, com numerosa
família, Reinaldo de Almeida, que se estabeleceu junto à atual cidade,
sendo este o fator preponderante de sua fundação.Em seguida, oriundos do
mesmo local, elegeram Vicente de Almeida, Reinaldo Sampaio e irmãos,
acompanhados das respectivas famílias, os quais construíram as primeiras
edificações. Após isso, com a vinda de novos habitantes, foi criado um
pequeno povoado com a denominação de ?Caldeirão?, nome dado aos buracos
feitos nas pedras, para captação de água da chuva, com que era mitigada a
sede dos moradores e viajantes.
Um dia chega, com a sua maleta, um jovem e promissor negociante
ambulante, que simpatiza com o lugar. Inteligente, vê possibilidade de
negócio e se estabelece no lugar com pequena casa comercial. É Diogo
Espínola de Andrade. Não se engana no prognóstico: dá-se bem, estende o
negócio, afeiçoa-se a uma filha do velho Reinaldo de Almeida e casa-se
com ela, constituindo família. Compra fazenda, negocia também com gado,
realiza intercâmbio de mercadorias com Minas. Cresce-lhe tanto o nome
que já começa a aparecer no topônimo ?Caldeirão do Diogo?. Surge então a
idéia de se erigir uma capela para o culto divino; o material é
fornecido por Diogo, sendo então a capela construída. Esta foi depois
ampliada e é a mesma que hoje existe sob a invocação de Nossa Senhora da
Natividade.
Em 1913, foi elevado o povoado de Caldeirão à categoria de
distrito de paz, pertencendo ao município de Areia, atual Ubaíra, isso
por haverem aí chegado os trilhos da Estrada de Ferro de Nazaré. Nessa
ocasião, foi construída a estação da ferrovia, que permaneceu com seu
ponto terminal na localidade, durante vários meses, o que muito
contribuiu para o seu desenvolvimento. Como distrito administrativo foi
classificado pela Lei municipal nº 203, de 22 de julho de 1918,
subordinado ao município de Areia; depois, com a criação do município de
Santa Inês, desmembrado do primeiro, passou a pertencer ao novo
município, com direito a representação no Conselho Municipal, sendo
dotado de alguns melhoramentos. Pela Lei estadual nº 1873, de 17 de
julho de 1926, quando governador do Estado o Dr. Francisco Marques de
Góis Calmon, foi criado o atual município, com a denominação de
Itaquara, e território desmembrado do de Santa Inês. Instalado em 3 de
outubro de 1926, foi extinto pelo Decreto-lei estadual nº 141, de 31 de
dezembro de 1943, e incorporado ao município de Santa Inês, sendo
restaurado pelo Decreto estadual nº 12978, de 1º de junho de 1944.
A sua formação administrativa, que não sofreu alteração desde a sua criação, é de distrito único: Itaquara.
Fonte:
Prefeitura Municipal de Itaquara
Autor do Histórico:
GERSON FERNANDES DE ARAÚJO
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