quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Pesquisa para governo da BA: Ibope e Babesp erraram, afirma estatístico.

Enquanto líderes do DEM e do PT colocam em dúvida as últimas pesquisas da Babesp e Ibope que apresentam resultados ruins para seus candidatos ao governo do Estado, o estatístico Denivaldo Fernandes, especialista em marketing político e eleitoral, que foi fiscal do Conselho Federal de Estatística da 5ª Região (Bahia, minas Gerais e Sergipe) de 2006 a 2007, assegura que as duas críticas estão corretas. Ou seja, tanto o Babesp, conhecido como DataNilo, ligado ao deputado Marcelo Nilo (PDT) - que apoia o candidato Rui Costa (PT) - quanto o Ibope contratado pela TV Bahia da família do prefeito ACM Neto (DEM) - e por isso apelidado de DataNeto - que faz campanha para Paulo Souto (DEM) - estariam errados.

Fernandes analisou os recentes levantamentos de intenção de voto divulgadas pelos dois institutos e aponta "erros" nos levantamentos que, na sua visão, comprometem "claramente" o resultado final.

"Veja o caso da Babesp. Nos relatórios das duas pesquisas, apesar de informar em que municípios as entrevistas foram feitas, não detalha se as pessoas foram ouvidas nas sedes ou na zona rural, o que influencia o resultado, pois há casos de povoados com população expressiva".

Margem de erro

Outro erro está no chamado "calculo amostral", percentual onde se estabelece a margem de erro. "Quando você diz que o erro é de 3% para mais e para menos, você tem que fazer 1.067 entrevistas. Quando a margem de erro é 2,5% fica em torno de 1.500 entrevistas. Quando diz que é 2% aproxima-se de 2 mil entrevistas. A Babesp disse que realizou 2 mil entrevistas com margem de erro de 2,5 pontos . Ou seja, ela fez mais entrevistas e não apresentou a margem de erro correta, que deveria ser menor, de 2 pontos". Ele interpreta que isso pode ter ocorrido para facilitar o empate técnico dos candidatos.

Significa que, quanto maior a margem de erro, se amplia a faixa do empate técnico. "Isso pode ser de forma intencional ou por erro e desatenção. Não podemos dizer que foi má intenção sem ter os questionários completos para fazer os cálculos. Só com uma auditoria".

O estatístico também apontou a mesma distorção na pesquisa do Ibope divulgada na noite de quarta passada. "Cometeram erro na amostragem. Fizeram cálculo em que amostra não está condizente com a margem de erro. Se a margem de erro foi 3 pontos, deveriam ter sido feitas 1.067 entrevistas e fizeram 1.512. Nesse caso a margem de erro seria de 2,5. Ai esse resultado pode ser usado para diminuir ou aumentar a diferença entre os candidatos ou jogar um deles mais para cima". Quando se amplia a diferença, por exemplo, se aponta para uma vitória no primeiro turno.

"Nesse caso os investidores e os indecisos tendem a migrar para a candidatura que está na frente, achando que ela é imbatível".

Contratado em 2012 por partidos políticos, Fernandes ajudou a impugnar trinta pesquisas nos estados de Minas, Alagoas, Bahia e São Paulo. Ele diz que, quando o instituto tem alguma ligação com os partidos ou candidatos envolvidos na disputa, é comum colocar o nome da "casa" na pontuação máxima da margem de erro. "Por exemplo, se o candidato teve 10% na apuração com margem de erro de 2, ele coloca no relatório que o cara chegou aos 12%. Isso é uma forma de manipular a pesquisa". O estatístico fez uma alerta em relação às próximas pesquisas. "A partir de agora você pode ter certeza que as pesquisas vão ter forte influência no eleitorado".

Conforme Fernandes, todos os pedidos de impugnação que fez de pesquisas foram acatadas pela Justiça porque conseguiu provar matematicamente os erros. "Se eles (os autores das pesquisas) forem contestar uma análise dessas, precisam fornecer os dados completos. E se, a partir desse dado, se comprovar que ocorreu má-fé, aí a multa é de R$ 500 mil. Nesse casos sempre é melhor recuar, que ninguém é besta e não divulgar a pesquisa. Ou então, quando já é divulgada tem que fazer retratação dizendo que houve erro e propondo fazer nova pesquisa".

Contra-argumento

A assessoria de imprensa do Ibope disse que "tem o critério de não divulgar resultados com casas decimais porque a pesquisa não tem a precisão necessária para indicar com exatidão os resultados indicados com casas decimais. A divulgação de números com casas decimais passaria a falsa impressão de precisão que o método estatístico não proporciona". Por essa razão, explica, adota esse critério em relação à margem de erro.

"No caso desta pesquisa especificamente, a margem de erro é de 3 pontos percentuais por conta do arredondamento matemático feito com base em critérios estatísticos que preveem que: valores encontrados entre 0,0% e 0,4% sejam arredondados 'para baixo', enquanto os valores superiores a 0,5% são arredondados 'para cima'. Seguindo este critério, o 2,5 é arredondado para 3 pontos percentuais", diz assessoria.
Em relação às entrevistas nos municípios, informa que  "apesar dessa informação não ser divulgada, o Ibope realiza entrevistas nas duas áreas (sede e zona rural), respeitando as proporções existentes no universo".
Legislação
Roberto Matos, diretor da Babesp respondeu que sua empresa "realiza suas pesquisas eleitorais de acordo com o legislador pátrio, norteadas pela Lei n.° 9.504/97, a Lei das Eleições, onde estão previstas as regras gerais sobre pesquisas eleitorais, bem como pela Resolução TSE n.° 23.400/13, a qual disciplina especificamente os procedimentos relativos ao registro e divulgação de pesquisas de opinião pública para as eleições 2014".
Assegura que os levantamentos "são elaborados seguindo estritamente as disposições legais e técnicas, dispensando tratamento isonômico aos partidos e candidatos nas pesquisas realizadas, evitando qualquer irregularidade na realização, no registro ou na divulgação das pesquisas". Sobre a margem de erro  diz que o Babesp "utiliza em suas pesquisas eleitorais o cálculo amostral com base na distribuição amostral das proporções para população finita (N=número de eleitores) com desvio-padrão de 0,50 (valor utilizado em caso de desvio-padrão desconhecido)".
Matos diz que para a margem de erro ser de apenas 2 pontos ou menos, "teríamos que entrevistar em torno de 2400 eleitores". Sobre a distribuição das entrevistas, alega não haver "nenhuma disposição legal brasileira onde exija-se discriminar se as oitivas das pessoas foram realizadas nas sedes ou na zona rural dos municípios".





Biaggio Talento e Rodrigo Aguiar
Ter, 16/09/2014 às 07:09 | Atualizado em: 16/09/2014 às 07:09

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