Assim como o homem
carrega o peso do próprio corpo sem o sentir, mas sente o de qualquer
outro corpo que quer mover, também não nota os próprios defeitos e
vícios, mas só os dos outros. Entretanto, cada um tem no seu próximo um
espelho, no qual vê claramente os próprios vícios, defeitos, maus
hábitos e repugnâncias de todo o tipo. Porém, na maioria da vezes, faz
como o cão, que ladra diante do espelho por não saber que se vê a si
mesmo, crendo ver outro cão.Quem critica os outros trabalha em
prol da sua própria melhoria. Portanto, quem tem a inclinação e o hábito
de submeter secretamente a conduta dos outros, e em geral também as
suas ações e omissões, a uma atenta e severa crítica, trabalha
na verdade em prol da própria melhoria e do próprio aperfeiçoamento,
pois possui o suficiente de justiça, ou de orgulho e vaidade, para
evitar o que amiúde censura com tanto rigor.
Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'
Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'
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