sábado, 9 de fevereiro de 2013

Democracia e progresso da cultura



            Segundo Nietzsche, todas as ideologias democráticas (inclusive socialistas, liberais, etc) têm um ponto em comum: a sua base é fundada no cristianismo, na medida em que, sendo humanistas, pregam a igualdade dos homens. Enquanto o cristianismo ressalta que todos são iguais perante Deus, os modernos somente substituem Deus pelo Estado. Permanece, então, o sentimento de igualdade que se originou no cristianismo e se irradiou por todas as doutrinas democráticas.
            Em verdade, a modernidade traz consigo a condição de escravo a todos os homens. A ênfase na dignidade do trabalho, deste modo, é uma forma do escravo dignificar a sua própria condição pois, já que o indivíduo não pode deixar de ser escravo, ele dignifica e confere um valor a tudo que faz enquanto tal. Assim, o sentimento do escravo com relação ao senhor é o da inveja, e esta inveja enseja a vingança e revolução.
            Para os gregos, por exemplo, trabalhar era sinônimo de vergonha; para os modernos, é sinônimo de dignidade. Entretanto, para o surgimento dos grandes homens, é necessário que uns trabalhem e outros não; uns tenham tempo para pensar e outros não; uns tenham ócio e outros não. Somente assim, segundo o filósofo alemão, será possível o progresso da humanidade. Deve-se ter em mente que a escravidão é a essência da civilização; logo, sempre houve senhor e escravo, em contraposição ao que prega o ideal de igualdade democrática. Na verdade - e Nietzsche frisa muito bem isso - as relações de poder são constitutivas e indissociadas da vida humana.
            Neste sentido, Nietzsche afirma que a cultura moderna é vulgar, superficial e pobre, pois as representações, como vimos, advêm dos escravos. A era moderna equaliza senhor e escravo sob a idéia de todos são iguais perante a lei e, em virtude desta equalização, não há pessoas com tempo para pensar em coisas maiores e amplas sobre e para a humanidade.
            Neste caso, dialoga-se diretamente com Rousseau. Segundo Nietzsche, quando Rousseau defende o bom selvagem, ele nega as grandes obras da civilização. Rousseau seria negligente pois, efetivamente, são os grandes homens que revolucionam e fazem a história, e não as massas. A escravidão, desta forma, é a destruição da possibilidade que os homens têm de construir os grandes homens. O líder, por exemplo, não pode ficar restrito ao trabalho material, pois só se pode saber e criar se tiver disponibilidade de tempo. Mais especificamente, sem a escravidão não há cultura, civilização ou homens grandes. O homem tem potencialidades, mas a modernidade frustra o seu desenvolvimento.
            O Estado Moderno, por sua vez, é apoderado pelos interesses egoístas de uma aristocracia do dinheiro, que não tem qualquer interesse ou compromisso civilizatório. Ocorreu a desvalorização da política tal qual os gregos a viam – como uma atividade nobre – pois, em virtude da identificação entre governantes e governados, o candidato deve ser cada vez mais popular. Portanto, o Estado perde seu atributo de instrumento civilizatório para ser um instrumento popular.

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