Segundo Nietzsche, todas as ideologias democráticas
(inclusive socialistas, liberais, etc) têm um ponto em comum: a sua base é
fundada no cristianismo, na medida em que, sendo humanistas, pregam a igualdade
dos homens. Enquanto o cristianismo ressalta que todos são iguais perante Deus,
os modernos somente substituem Deus pelo Estado. Permanece, então, o sentimento
de igualdade que se originou no cristianismo e se irradiou por todas as
doutrinas democráticas.
Em verdade, a modernidade traz consigo a condição de escravo
a todos os homens. A ênfase na dignidade do trabalho, deste modo, é uma forma do
escravo dignificar a sua própria condição pois, já que o indivíduo não pode
deixar de ser escravo, ele dignifica e confere um valor a tudo que faz enquanto
tal. Assim, o sentimento do escravo com relação ao senhor é o da inveja, e esta
inveja enseja a vingança e revolução.
Para os gregos, por exemplo, trabalhar era sinônimo de
vergonha; para os modernos, é sinônimo de dignidade. Entretanto, para o
surgimento dos grandes homens, é necessário que uns trabalhem e outros não; uns
tenham tempo para pensar e outros não; uns tenham ócio e outros não. Somente
assim, segundo o filósofo alemão, será possível o progresso da humanidade.
Deve-se ter em mente que a escravidão é a essência da civilização; logo, sempre
houve senhor e escravo, em contraposição ao que prega o ideal de igualdade
democrática. Na verdade - e Nietzsche frisa muito bem isso - as relações de
poder são constitutivas e indissociadas da vida humana.
Neste sentido, Nietzsche afirma que a cultura moderna é
vulgar, superficial e pobre, pois as representações, como vimos, advêm dos
escravos. A era moderna equaliza senhor e escravo sob a idéia de todos são
iguais perante a lei e, em virtude desta equalização, não há pessoas com
tempo para pensar em coisas maiores e amplas sobre e para a humanidade.
Neste caso, dialoga-se diretamente com Rousseau. Segundo
Nietzsche, quando Rousseau defende o bom selvagem, ele nega as grandes
obras da civilização. Rousseau seria negligente pois, efetivamente, são os
grandes homens que revolucionam e fazem a história, e não as massas. A
escravidão, desta forma, é a destruição da possibilidade que os homens têm de
construir os grandes homens. O líder, por exemplo, não pode ficar restrito ao
trabalho material, pois só se pode saber e criar se tiver disponibilidade de
tempo. Mais especificamente, sem a escravidão não há cultura, civilização ou
homens grandes. O homem tem potencialidades, mas a modernidade frustra o seu
desenvolvimento.
O Estado Moderno, por sua vez, é apoderado pelos interesses
egoístas de uma aristocracia do dinheiro, que não tem qualquer interesse ou
compromisso civilizatório. Ocorreu a desvalorização da política tal qual os
gregos a viam – como uma atividade nobre – pois, em virtude da identificação
entre governantes e governados, o candidato deve ser cada vez mais popular.
Portanto, o Estado perde seu atributo de instrumento civilizatório para ser um
instrumento popular.
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